sábado, 29 de dezembro de 2018

O PRATO FRIO DA VINGANÇA





Sexta feira dia de jantar a dois.
Checklist:
salmão,
manteiga,
vinho branco,
salada verde,
Passar no supermercado.
Toma o elevador. O celular do vizinho toca. Ele olha e o recoloca no bolso. A esposa:
- Não vai atender? 
- Era meu chefe, depois falo com ele.
Parada no fundo do elevador ela pensa...chefe é? Sei... de repente se lembra que dias atrás aconteceu o mesmo com ela e Ricardo, seu indeciso namorado de cinco anos.
Nada como observar à distância, a vida dos outros, para entender a nossa...
Pronto... sem avisar a pulguinha se instala atrás da orelha.
O hábito de se maquiar no carro, nas paradas obrigatórias do transito, hoje foi dispensado. A cabeça fervilha, o fato da semana passada: é visto, revisto em detalhes. 
Na imaginação a expressão do rosto dele é observada...e outra lembrança aterrorizante:  quando disse que era o chefe, desviou o olhar, abaixou a cabeça e saiu apressado da sala.
Conclusão óbvia:ele a está traindo.
O suor escorre e as mãos tremem. 
A cabeça começa a arquitetar planos para conferir as chamadas do celular dele, mil sugestões da pulguinha atrás da orelha, mas todas impossíveis de realização. 
Ele não larga o celular nem para ir ao banheiro!
Trabalha num banco de investimento na área de informática, fazendo apresentações em Power Point com dados estatísticos: uma funcionária competente e reconhecida.
Área de informática? Celular? Ligações? E lá vem a idéia brilhante. Dias atrás um colega lhe havia dito que conhecia um programa que poderia descobrir, nas operadoras, as ligações de qualquer celular, bastaria ter o número.
Mal se sentou na cadeira do escritório, mandou e-mail para o colega. Marcaram para a hora do almoço a pesquisa; afinal era caso de vida ou de morte.
A manhã escorreu devagar.... Muito devagar.  Enfim: 12:00 horas.  As pernas tremem enquanto o colega acessa a conta do celular de Ricardo. Havia uma esperança no coração atormentado dela, de que a coisa não desse certo, mas o sujeito era competente e o programa funcionou magnificamente... Correndo os olhos nas ligações da última semana:  1,2 3…10!!!  Ligações de um número desconhecido. 
Um misto de dor e ódio se apoderou de cada célula de seu corpo: ela era a raiva encarnada. E agora o que fazer?  Próxima missão: descobrir de quem era o número. Mas como? E é a pulguinha que lhe sopra a ideia.
-Alo? Quem fala?
-Aqui é a Marília com quem quer falar?
-Meu nome Amélia. Sou a nova secretária do Sr. Ricardo, ele me pediu para avisar a senhora, que ele não vai poder encontrá-la hoje.
-Estranho... ele já havia me avisado que teria um compromisso, mas obrigada.
Um buraco se abre no chão e ela se debruça nele em estado de choque; mas a pulguinha de novo argumenta: “Você é uma mulher ou uma ratazana desesperada"?
-Uma mulher, que só tem uma palavra na cabeça: vingança, vingança! Brada em alto som para si mesma.
Ricardo fala sem parar, vomitando, a eficiência, a promoção, o cumprimento de metas.... Enquanto ele prepara a salada, ao lado, ela corta com uma faca afiadíssima, o salmão. A vingança ainda não foi arquitetada, mas a raiva se acumula a cada instante.
O telefone celular toca. Ele olha quem é,ignora a ligação.
-Não vai atender?
-Era meu chefe depois falo com ele.
Distraidamente ele coloca a mão na tábua onde o salmão repousa. A oportunidade se apresenta.  Ela levanta a faca e a deixa cair na tábua, com a força da raiva acumulada: e a primeira falange  do dedo indicador dele ....Cai ao chão.
-Vá, vá para o carro!!!! Vou pegar gelo para colocar no seu dedo.
 Ele enrola uma tolha no dedo, isto é, no lugar onde antigamente estava o dedo, e sai aos berros. Ela, bate a porta e corre ao celular. E lá está o número de Marília...
Ele bate desesperadamente na porta.
- Abre aqui !!!.  Você não vai me levar ao pronto socorro ???
-Vá pedir socorro a Marília seu traste...
Enche a taça de vinho e o saboreia vagarosamente.





Nenhum comentário:

Postar um comentário